quinta-feira, 12 de março de 2015

À espera do 15

A Nova República, que já nasceu como farsa, porque a partilha do poder político já estava predeterminada para ficar entre PT e PSDB, com algumas participações possíveis do PMDB, culminando na vitória do Partido dos Trabalhadores, está nas vascas da agonia, no limiar extremo de sua existência, a ser seguido por algo novo, pois estamos presenciando à "criação de um novo sistema de representação". Pela primeira vez em 500 anos de história o povo realmente toma a iniciativa e se torna o "sujeito agente criador de sua própria história". Todos os movimentos anteriores, desde a Marcha da Família até as Diretas Já, independentemente do signo político que as assinalava, foram manifestações populares organizadas pela elite governante, que apenas usava assim a população para alcançar seus objetivos. Isso, porém, não é o que está acontecendo agora, pois vemos, desde novembro de 2014, nas manifestações iniciadas pelo Passe Livre, por iniciativa do governo, mas que acabou por ser apropriada pelo povo que vinha reclamar e expressar a sua indignação com o próprio governo, passando pelas manifestações dos caminhoneiros e chegando ao atual e esperado 15 de Março, vemos, repito, o povo tomar a iniciativa sem liderança política alguma. "Os dias da Nova República estão contados" e "estamos vendo a criação de um novo sistema de representação" são frases do filósofo Olavo de Carvalho, ditas nesta quinta-feira (12/03/15), em mais um hangout com Lobão. Dentre tantas coisas, também foram palavras do professor os seguintes dizeres:
"É uma coisa muito impressionante o que está acontecendo. Pela primeira vez na história o povo brasileiro se torna o sujeito agente criador da sua própria história, que é uma figura de linguagem que o pessoal comunista usava, só que na boca deles é tudo falso."
"Na hora que chegou a esses 93% de rejeição, eu falei: 'Sem dúvida esse é um grande momento. Esta é a inauguração da história do povo brasileiro. Até aqui você teve a história do Brasil, que é um território cheio de gente; agora não, agora o povo está agindo, pela primeira vez na nossa história. Isso é um começo, e não o fim. É o fim para esses filhos da puta, mas para o povo brasileiro é um grande começo."
Se você quer conferir o hangout, acesse:https://plus.google.com/u/0/hangouts/onair/watch…

8 de Março

As televisões do Brasil estavam ligadas. Era comemoração do dia internacional das mulheres e uma mulher iria falar em cadeia nacional. A presidente havia gravado, horas mais cedo, o pronunciamento a ser transmitido às 20h40m. Era domingo, alguns chegavam da missa, outros estavam em seus carros, pelas ruas do país. Os prédios, acordados, esperavam o momento. Os olhos das donas de casa, das universitárias, das doutoras, das crianças, e dos trabalhadores, professores, dos aposentados, da oposição, da situação, dos militantes estavam aguardando.
A presidente aparece, mais magra e mais branca. Capricha na dicção, se esforça para apresentar um rosto alegre, simpático. Promete fornecer à população explicações sensatas para as medidas impopulares que tomou e que havia dito em campanha não tomaria. Começa então um corolário de mentiras e falsificações, de negações descaradas das realidades mais óbvias que todo mundo vê com os olhos da cara. Uma “crise internacional” é sacada como recurso para tentar justificar aumentos de gasolina, energia e água. A meteorologia desfavorável também é invocada, as críticas ao governo são reprovadas como injustas e, falando de fé e esperança, e de que os problemas nacionais são também espirituais, a presidente pede paciência e consideração. No fim, ela diz que vai aprovar no dia seguinte a lei que torna o assassinato de mulheres um crime hediondo.
Acaba o pronunciamento; porém, antes mesmo, estouravam pelo país protestos espontâneos de indignação, de fadiga limítrofe, de cansaço que já não se pode suportar, os quais protestos – buzinaços e panelaços – petistas dizem agora ter sido armação golpista da oposição.
A situação nacional ficou para lá de insuportável e a presidente não se cansa de mentir, de falsificar a realidade, como se o brasileiro fosse um retardado mental incapaz de ver com os próprios olhos e perceber a mentira.

A noite foi arrepiante. Os vídeos que espocaram na internet mostravam prédios piscando na escuridão brasileira, gritos de “fora, Dilma!” que vazavam o silêncio, saindo de um prédio e percorrendo o caminho até os outros, nas asas do descontentamento e da exasperação. Foi uma noite especial, histórica, que deverá ser lembrada nos livros do futuro, como a noite em que a provavelmente mais impopular de todos os presidentes que esse país já teve foi vaiada mais uma vez. Dilma Rousseff definitivamente entrou para a história deste país.