sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Roberto Gomez Bolaños, o pequeno Shakespeare


Hoje, sexta-feira (28/11/2014), faleceu Roberto Gomez Bolaños, um dos atores, roteiristas, produtores mais queridos da televisão brasileira e latino-americana. Bolaños, através dos seriados Chaves e Chapolin, encheu nossa infância e adolescência de risos e gargalhadas. Muita gente adulta e idosa também não perdia suas aventuras, que eram sempre engraçadas, inteligentes, interessantes, e traziam mensagens como a solidariedade, a amizade e outros bons ensinamentos (lembram de Acapulco? O Chaves iria ficar sozinho na Vila, se não fosse o Sr. Barriga). Ninguém, na televisão que eu conheço, conseguiu produzir tantas frases de efeito, tantos encadeamentos cômicos, que chegaram a se tornar lugares comuns do humor. Não sei se ele os inventava pura e simplesmente ou se, tirando da vida popular e da literatura, os organizava de modo a alcançar tão maravilhoso efeito. Provavelmente, ele fazia os dois, o que é um trabalho, não apenas de um roteirista, mas de um escritor. 
Bolaños conhecia a literatura clássica. Seus episódios dialogavam com a literatura francesa, em Cirano de Bergerac, por exemplo, com a literatura de língua espanhola, como Don Juan Tenorio e, quem sabe, a idéia de colocar um menino morando num barril tenha a ver com um certo filósofo da antiguidade grega, só para citar alguns.
Bolaños parece que tinha algum conhecimento esotérico também, cabalístico, por assim dizer. Alguém sabe a "palavra cabalística" da Bruxa Baratuxa? Alguém desconfiou dos significados dos números nas portas de cada casa da Vila? E a multidão de "CH"? Chaves, Chapolin, Chiquinha, "Chicharra paralisadora" (corneta paralisadora, no original), etc, etc. Um dia passei a madrugada pesquisando isso. Bela noite... Pelas minhas pesquisas, na cabala, a letra hebraica que corresponde ao "Ch" tem por número o 8. E não é justamente esse o número do "Chavo del 8", que tem 8 anos e mora na casa 8, porque "ninguém pode morar num barril"?
Bolaños sabia inventar e animar nossa imaginação. Eram as viagens arqueológicas às pirâmides do Egito, as tribos da América Central, como Os Discotecas, que falavam todas as palavras terminando com -eca, eram as viagens para Marte, os foguetes, os marcianos, etc, etc. Eram as pílulas que deixavam o Chapolin - e quem mais tomasse - pequeno como um polegar, eram os raios desmilinguadores, as tintas que tornavam os móveis e paredes invisíveis, o estrato de energia volátil, que fazia tudo sair voando, o próprio homem invisível, cuja presença era notada exatamente por ninguém o estar vendo, eram os criminosos mais perigosos do mundo, como o Poucas-Trancas e o Pirata Alma Negra, que tinha um ta-ta-ta-ta-ta...taraneto (são 14 tatas); eram as casas abandonadas perto da estrada, aonde chegavam homens e mulheres que tinham tido os pneus do carro furados ou a gasolina tinha acabado, eram os cachimbos com a inscrição "HHH", eram os Supersams, os despejos de casas alugadas, tiroteios, tanta coisa! É uma riqueza muito grande nas criações de Chespirito (como todo mundo sabe, "Chespirito" é uma forma espanhola diminutiva para Shakespeare).
Roberto Gomez Bolaños já está deixando saudades e vai deixar ainda mais. Que Deus o tenha e que os nossos filhos continuem assistindo às suas fantásticas aventuras. Descanse em paz, Bolaños.

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