quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Substantivo concreto e abstrato

Um substantivo concreto é aquele que indica um ser na plenitude das suas propriedades e não necessariamente um ser existente. Os alunos entupidos de dúvidas céticas podem estranhar o fato de que "Deus" seja substantivo concreto, assim como "anjo" e "unicórnio". Eles provavelmente vão dizer que unicórnios não existem, que anjos, se os há, não têm, contudo, corpo físico e que não sabem se Deus é real. Tudo isso é confusão. Evidentemente, não é preciso ser cristão ou ter outra religião qualquer para compreender suficientemente a Gramática. "Unicórnio" é concreto, porque, ainda que apenas imaginado, é um ser que possui suas diversas propriedades, como tamanho, cor, textura, etc. Assim você diz "Unicórnio  branco", sendo que o adjetivo dessa expressão indica uma característica do ser. O adjetivo já é uma espécie de abstração, isto é, é a explicitação de uma qualidade. Dele, é possível abstrair mais e falar de "brancura",  que é um substantivo e indica a qualidade de ser branco. Quando se fala da brancura, o ser em sua concretude já não está presente, mas apenas a qualidade, tomada isoladamente de qualquer ser. Por isso, "brancura" é substantivo abstrato.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Gramática e os Mestres da Língua

O estudo gramatical é uma reflexão posterior que a pessoa faz sobre a língua que já absorveu. Por isso, antes de estudar Gramática do Português e aprender a nomenclatura técnica do idioma, é imprescindível adquirir a linguagem dos mestres através da leitura dos clássicos. A realidade escolar, contudo, é totalmente diversa, porque, em idade tenra, o estudante começa a ver denominações estranhas e macetes excêntricos para melhor memorizar as regras linguísticas, sem, porém, empreender uma prática séria de absorção da língua portuguesa. No final das contas, o que ele aprendeu a duras penas paira um pouco no ar, mas logo desaparece com a descontinuidade e a falta de compreensão real dos motivos da língua. O estudante termina o Ensino Médio como um semianalfabeto, lendo muitíssimo mal, escrevendo pior ainda e sem saber para que serviu decorar regras vazias, cuja utilidade única que enxergava eram as boas notas possíveis nas avaliações.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Estilo: substantivos e adjetivos

Assistindo a uma aula do COF sobre abstração, uma percepção intensa sobre a função do substantivo e do adjetivo numa frase me veio à mente de uma maneira tão teimosa que simplesmente não consegui mais prestar atenção à aula. É uma ideia muito simples, conhecida nos primeiros anos de estudo gramatical, mas que me fez refletir sobre minha própria maneira de escrever e poderá ser útil para você também.

O substantivo é uma classe morfológica que diz respeito a coisas em seu estado puro e conceitual. A palavra "cadeira" indica a espécie de objetos que se chamam cadeira, sem nenhuma especificação, sem nenhuma nota acidental, sem o apontamento de qualquer característica. O substantivo é breve, bruto, direto, condensado, lacônico, o que pode ser insuficiente para a expressão vivaz de certos pensamentos. Por isso, o adjetivo é um recurso verbal excelente e indispensável, que explicita certa característica já presente no substantivo, mas não atualizada por ele. Dizer "cadeira vermelha" é tornar o objeto mais vivo, mais presente, mais determinado para o leitor, o que está de acordo com a regra estilística que ensina a preferir o termo próprio em lugar do termo genérico. Desse modo, o adjetivo ajustado é importantíssimo para a expressividade vivaz do discurso.

Usar apenas substantivos, verbos e outros termos, deixando o adjetivo e as locuções adjetivas de lado, torna o discurso duro, compacto e menos expressivo do que ele poderia ser. Por outro lado, adjetivos em excesso levam o enunciador para o outro lado dessa esfera, em que as qualidades e características das coisas se apresentam em excesso, mas os próprios objetos se tornam vagos ou quase ausentes. O discurso fica frouxo.

Há escritores brasileiros de grande qualidade que se aproximaram mais de um pólo ou de outro. Por exemplo, Graciliano Ramos era extremamente comedido no uso de adjetivos, enquanto escritores românticos como Gonçalves Dias utilizavam-no muito mais efusivamente. Tanto um como outros foram bons no que fizeram, mas têm características pessoais diferentes.

A linguagem substantiva pode se tornar árida, abafada, emocionalmente deficiente, enquanto que o excesso adjetivo pode indicar emocionalismo barato, superficialidade, puerilidade. Ademais, o adjetivo pode empolar o estilo e, pelo excesso, dificultar a compreensão, como em discursos em que o sujeito se preocupa mais com dar impressão erudita que falar de alguma coisa efetivamente. A utilização harmoniosa e dosada de ambos deixará o discurso belo, claro, expressivo e vivaz. Um é a solidez do enunciado e outro a sua exuberância.

Por fim, há exercícios eficazes para o desenvolvimento da utilização adequada dos adjetivos, como procurar descrever com muita pontualidade lugares, pinturas e imagens em geral.

Foi isso.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Aula de Capitalismo

A crise chegou na vila. Dona Florinda, que sabia fazer churros deliciosos, entra num acordo com o Seu Madruga, ótimo vendedor. Apesar das diferenças, montam uma barraquinha, dando emprego às crianças, e enfrentam as dificuldades.

Aula de Marxismo

O dinheiro estava difícil. Kiko vai comprar pão com três moedinhas. Encontra a Chiquinha e o Chaves. A espertalhona desafia o filhinho da Florinda a apostar as moedas no cara e coroa. Se desse coroa, o Chaves ganhava, se desse cara, a Chiquinha. Quando o Kiko? Quando desse o contrário. Ele aceita e perde tudo.
Moral: com o Marxismo, em qualquer uma das alternativas você perde.

A partir do episódio "A sociedade (parte 1)" de 1978

Conservador, reacionário e progressista

Na universidade, a palavra "conservador" é continuamente carregada de uma carga negativa, através de repetições pejorativas, clichês que nunca dizem o que é um conservador. Mas todo o ser humano precisa conservar o que é bom, reagir contra o que é mau e progredir no caminho certo. Assim, todos precisam ser conservadores, reacionários e progressistas. É interessante notar que os próprios revolucionários têm a sua tradição. Um marxista, quando evoca Marx, Lênin e outros, está reivindicando a sua. Um protestante, embora não seja um revolucionário, quando rejeita a tradição católica, conserva a sua a partir do momento em que fundou a nova igreja. Os Luteranos guardam a teologia luterana, os Batistas a batista e assim por diante. Um evangélico, por exemplo, não está livre para interpretar a Bíblia no sentido de ver nela a doutrina católica a respeito de Maria. Ele precisa necessariamente negar o catolicismo. Se ele começar a aceitar os milagres de Fátima, que foram vistos por milhares de pessoas, a ver o sentido simbólico, no Calvário, de Cristo falando para Maria receber João como filho e João a Maria como mãe, ele enfrentará problemas. A livre interpretação das Escrituras não é tão livre assim, porque está sujeita à tradição interpretativa da denominação. A Igreja Católica é conservadora, porque preserva o depósito dado na revelação inicial de Cristo e dos apóstolos, é reacionária porque reage às heresias e ataques e progressista na compreensão das verdades recebidas desde o princípio. Já vi professores universitários simpáticos às atitudes de Lutero, mas não me consta claramente ter assistido a uma aula em que eles louvassem as conquistas católicas na arte, na filosofia, na teologia e, inclusive, na criação das próprias universidades. Pelo contrário, o clichê onipresente é o da Idade das Trevas, superada pelas luzes do Renascimento e da Revolução Francesa. Isso resulta em que até os estudantes católicos têm medo de ser chamados de conservadores.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A vida intelectual é apostolado

O caminho para a vida intelectual é sinuoso, repleto de perigos, tempestades, monstros, inimigos de todos os tipos. Ele é uma verdadeira epopeia, que excede monstruosamente à formação universitária. Ser um intelectual (ou estar a caminho) é abrir-se para inumeráveis influências, é descer por cavernas profundas, é enfrentar infernos, para, lá na frente, encontrar as escadas de salvação, as montanhas mais erguidas, os vôos mais altos e o brilho do sol. Por isso que ser intelectual é ser vocacionado e exercer uma espécie de apostolado, o leigo.

sábado, 19 de setembro de 2015

Credo, Ladainhas, Intercessão dos santos

Se o protestante se der ao trabalho de analisar o Credo Católico, verá que a grandíssima maioria das proposições diz respeito a Deus Pai, ao Senhor Jesus Cristo e a sua vida, morte e ressurreição, ao Espírito Santo, à Igreja, à comunhão dos santos, ao perdão dos pecados, à vida eterna e só uma proposição a respeito de Maria, que é exatamente esta: "nasceu da Virgem Maria". Se o mesmo protestante for olhar as Ladainhas, poderá notar que quando o orante se dirige às três pessoas da Trindade, é sempre pedindo misericórdia, que é própria de Deus, mas, ao falar à Maria, é "orai" por nós, pedindo assim a intercessão dela. Ele pode discordar da intercessão dos santos, mas não pode chamar isso de idolatria, como se costuma fazer. Entretanto, para discordar da intercessão, ele precisa saber qual o pensamento católico a esse respeito, que entende que nada pode separar os cristãos do corpo de Cristo, nem a morte, de modo que os cristãos vivos entre nós e os cristãos que já nos deixaram fisicamente estão ainda e atualmente unidos em Cristo, de modo que se pode dirigir a eles, pedindo-lhes oração, como se faz com uma pessoa presente em carne e osso. O protestante pode estranhar a doutrina à primeira vista, mas precisa saber se isso existe ou não na realidade, porque a doutrina é um discurso sobre o mundo real.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A Fé é a Saída

Ultimamente andei pensando que estamos sempre rodeados de problemas, que pesam sobre nós como as 12 camadas da personalidade pesam, sendo o diferencial apenas o foco da nossa atenção, que costuma se fixar sobre aqueles mais urgentes e deixar de lado os que podem esperar ou não doem tanto. Quando resolvemos um, logo outro emerge e se apresenta, de modo que não temos muito repouso das preocupações. Porque não vemos muitos problemas que pesam sobre nós neste momento, não tendo assim o controle da situação, precisamos confiar em Deus e esperar que Ele resolva alguns e impeça a progressão de outros, pois não é possível nos ocuparmos de todos. No final das contas, a fé é a nossa saída.

Soneto: revoltas e triunfo

Apesar das revoltas modernistas, o soneto permanece triunfante e glorioso, cultivado por poetas de primeira ordem, como Bruno Tolentino. O próprio Drummond, depois de um período de versos predominantemente livres e brancos, voltou a poetar em formas consagradas, inclusive o soneto e a terça-rima ao estilo de Dante Alighieri. Ângelo Monteiro, para citar mais um, também compôs sonetos, de modo que o poeta de hoje não precisa se envergonhar por escrever seus poemas nessa forma poética, nem em outras também tradicionais. Quem quiser compor versos brancos e livres ou decassílabos rimados que componha.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Leitura em voz alta

É significativo que as pessoas estranhem quando você diz que ouviu um livro. Elas conhecem apenas a leitura silenciosa e não chegam a supor que há certas obras que foram feitas para ser escutadas, como, por exemplo, as de poesia. Que você tenha lido “Os Lusíadas” é ideia razoável, mas que tenha ouvido não chega a fazer sentido para elas. Entretanto, a ideia de escutar um livro é bem razoável, porque os sinais escritos no papel são representações de certos sons produzidos no discurso falado. Assim, escutar um texto lido por alguém ou lê-lo em voz alta é atualizar a potencialidade sonora contida nele. Isso era o que se fazia, por exemplo, na Roma antiga, cujas bibliotecas presenciavam leitores recitando seus livros.

domingo, 13 de setembro de 2015

Se o Rio de Janeiro é um paraíso...

Em 2009, estive no Rio de Janeiro, para participar de um evento nacional de estudantes de Letras - o ENEL, que bem podia chamar-se, por conta da pauta de assuntos das reuniões e por causa de certa festa, de ANAL. Fui muito crédulo de que se tratava de evento sério, importante para a formação intelectual do estudante, mas eu nunca vi, confesso, tanta gente da pá (e do traseiro também) virada, como naquele lugar. Eu deveria ter imaginado. O tema, desde o início, era "Nem totens nem tabus", mas a minha inocência impediu-me de ver o óbvio. No meio dessa zona - olha só, teve um dia específico para a veadagem, no qual vi homens barbudos saírem de mãos dadas com outros na maior naturalidade do mundo - encontrei um grupo de evangélicos que fazia cultos ali, perto da venda de livros (ah, não falei, o evento aconteceu na UFF, durante uma semana inteira). Foi uma alegria imensa poder adorar a Deus, tocar violão, ouvir pregações, enquanto a baitolice corria fantasmagórica o campus da universidade. Entretanto, o que mais valeu a pena foi sair pelas ruas da capital e conhecer essa cidade maravilhosa: o Selarón fez uma coisa muito bacana com a escadaria de que ele cuida, onde tem seu atelier, o bondinho é demais correndo pelos trilhos das ruas de Machado de Assis, as ruínas em que fui e o teatro exótico que lá se representou, a barca entre Niterói e a capital, a ponte Rio-Niterói, o Theatro Municipal, o Odeon (!), que eu conhecia só por causa da música de mesmo nome, o Banco do Brasil, a Igreja da Candelária em que eu entrei - porca miséria! - como um turista que sai tirando fotos e só percebe que está num lugar de oração quando olha para o lado e vê senhores e senhoras rezando, Copacabana, o Arpoador, a Lapa e, por fim, a Confeitaria Colombo, que, quando ouvi falar, não tive o menor constrangimento, pensando que iria sentar numa banqueta e comer umas rosquinhas açucaradas, mas que, na verdade, é um lugar suntuoso, com espelhos cobrindo as paredes, garçons muito bem paramentados, piano ao vivo, lustre no teto e uma velha reclamando, na mesa do lado, que um lanche tinha dado R$ 100,00, tudo muito bom. Entrei de bermuda, chinelo e pé sujo e só fiz isso porque estava com vários outros universitários e ninguém ia notar muito em mim. Conhecer o Rio foi uma coisa maravilhosa, que me deixou com uma grande vontade de voltar um dia, com mais calma, mais tempo. Espero que muito em breve eu esteja novamente por lá, quanto mais agora que eu tenho um motivo para lá de especial. Qual? Eita curiosidade! Não direi, meu amigo, só desejo lembrar que, se o Rio é um paraíso, a minha costela está me esperando. Passar bem!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Catolicismo e Status Quaestionis

Todo aquele que deseje debater algum dogma do catolicismo e rejeitá-lo, como a existência do purgatório, a intercessão dos santos, a ascensão da Virgem Maria ou qualquer outro, precisa necessariamente conhecer todo o desenvolvimento dos debates em torno do tema, que se desenrolaram até o estabelecimento do dogma. Não refazer, através do estudo, esse caminho é não saber o que está em jogo. Evidentemente, a pessoa pode preferir a priori ficar com a doutrina de Lutero ou qualquer outro, mas precisa ter a honestidade de confessar que não é capaz de refutar os pontos do catolicismo e que toma o protestantismo de maneira irrefletida, assumindo sua veracidade antes de tudo, uma vez que esse movimento dentro do Cristianismo surgiu em reação à doutrina católica. Também, apresentar versículos bíblicos de maneira sumária, sem dialogar com a tradição interpretativa de 2000 anos, como se o sentido deles fosse raso e sem nenhum alcance maior, simbólico inclusive, não é uma opção válida, porque a Bíblia é um livro inesgotável, que valerá pelos séculos dos séculos, até o Juízo Final, de modo que a riqueza dela não pode ser abarcada num relance de olhos. A livre interpretação das Escrituras é um contínuo reinventar da roda, que pessoas que não têm condições de dedicar-se inteiramente a esse estudo devem fazer sozinhas. Na verdade, porém, coisas que estão sendo descobertas agora por alguns podem já estar explicadas de maneira muito mais completa e profunda nos autores católicos antigos, medievais e recentes. Portanto, para quem deseje "refutar" a doutrina católica de maneira responsável, é necessário estudá-la e refazer o estado da questão até o estabelecimento do dogma. Ou isso ou acomodar-se a dizer que não estudou e que portanto não pode opinar sobre o assunto.

domingo, 6 de setembro de 2015

Ah, sonhos...

Seria um ato de independência os militares chutarem, amanhã, a Dilma da cadeira presidencial, que não é dela. Seria lindo ver uma multidão fazendo um estrondoso panelaço naquele muro de aço, o muro da vergonha. Seria maravilhoso acordar amanhã de volta no país chamado Brasil e não nessa farsa onde fraudes gigantescas são praticadas, onde as consciências são soterradas, onde os talentos são atacados, onde a sinceridade é um crime, o mérito um insulto pessoal, onde a cultura é funk e a educação Paulo Freire. Seria maravilhoso! Ah, sonhos...

Poesia, ludicidade e vivências

Um poeta não escreve apenas para brincar com palavras, como se a poesia se resumisse à ludicidade. Muito além disso, entretanto, ele está preocupado com expressar impressões reais, vivências interiores, acontecimentos externos, de modo a ensinar para o leitor as maneiras de dizer a sua própria vida. Portanto, ninguém deve olhar para um Camões, por exemplo, e reparar somente nos brilhantes jogos verbais que alcançou, mas, sobretudo, naquilo que o poeta português disse sobre a própria existência de quem lê.