A Bíblia está repleta da
misericórdia de Deus. Não apenas o Novo Testamento a revela, mas o Antigo
também, porque Deus é misericordioso desde a eternidade. Evidentemente, Jesus
Cristo, o Filho de Deus, é a revelação plena dessa misericórdia, mas já podemos vê-la prenunciada na vida de dois gigantes da fé: José do Egito e Moisés.
JOSÉ
José, filho de Jacó, era o
mais novo de seus irmãos e desde sempre foi tratado com muita predileção pelo
pai, que lhe deu, certa vez, uma túnica colorida que nenhum deles tinha
jamais recebido. Uma túnica colorida era sinal de honra, em contraposição às
túnicas de uma cor só, cinzentas, marrons, escuras ou claras, que eram apenas
comuns. Além disso, José recebia sonhos de Deus. Ele os contava a seus irmãos,
mas eles não podiam crer, pois os sonhos sempre mostravam José numa
posição de destaque sobre os outros filhos de Jacó. José foi chamado
pejorativamente de “sonhador”, até que seus irmãos não suportaram mais e quiseram matá-lo. Mas Rubens, o mais velho,
dissuadiu-os de fazerem isso. Eles, então, lançaram-no numa cova, molharam
sua túnica no sangue de um cabrito e a levaram a Jacó, dando-lhe a falsa
notícia de que um urso havia devorado seu filho.
Depois que José fora lançado
na cova, seus irmãos se assentaram junto dela para comerem. Aconteceu então que
uma caravana de ismaelitas vinha passando nas proximidades e Judá convenceu os
irmãos a venderem-no como escravo. O jovem rapaz foi conduzido ao Egito,
provavelmente puxado por uma corda, recebendo socos e chutes, ofensas e
humilhações, tendo que caminhar uma longa distância.
Quando chegou àquela terra
estranha, foi vendido para Potifar, eunuco de Faraó e capitão da guarda. Mas
José foi sempre fiel a Deus, nunca consentindo com o pecado. O Senhor o honrou
grandemente. O rapaz lançado numa cova tornou-se o responsável por toda a casa
do capitão, tendo poder sobre tudo, menos sobre a sua mulher, que, pondo os
olhos em José, desejou-o e tentou seduzi-lo. Ele, contudo, resistiu. A mulher,
vendo isso, acusou-o de ter tentado forçá-la a ter relações sexuais com ele.
José foi enviado para o cárcere, onde interpretou dois sonhos, o do copeiro e o
do padeiro. O primeiro seria restituído à sua posição diante de Faraó em três
dias e o segundo seria morto em igual quantidade de tempo. E assim sucedeu. O
copeiro voltou a estar na presença de Faraó e o padeiro foi enforcado. Ao
copeiro, José pediu que se lembrasse dele quando estivesse novamente com o rei,
mas ele não o atendeu. Somente depois de dois anos, quando Faraó teve um sonho
à beira do rio e chamou seus adivinhadores e todos os sábios do Egito para lhe
darem a interpretação, o que não puderam fazer, foi que o copeiro se lembrou de
um jovem que tinha interpretado seu sonho e o do padeiro na prisão, tendo tudo
acontecido como ele falou. Faraó então manda chamá-lo.
Tiraram José dessa
segunda cova, ele barbeou-se, trocou de roupa e apresentou-se a Faraó, que lhe
contou todo o sonho, que falava de sete vacas gordas e sete vacas magras, sete
espigas cheias e sete espigas secas. José interpretou o sonho, dizendo que as
sete vacas gordas, assim como as sete espigas cheias, significavam sete anos de
fartura sobre a terra do Egito e as sete vacas magras e as sete espigas secas,
sete anos de fome. José deu ainda conselhos a Faraó, que humilde e sabiamente
os seguiu, constituindo o jovem vendido como escravo como governador do Egito,
a maior autoridade do reino abaixo do rei.
Os egípcios puderam assim se
prevenir dos dias difíceis que viriam, Dessa forma, Deus abençoou o Egito pelas
mãos de José. Mas não somente. A família do rapaz foi poupada da fome e livre
da morte que veio sobre a terra em que viviam, pois também sobre ela veio uma grande
escassez. Jacó e seus filhos foram morar no Egito, longe das dificuldades que
assolavam as outras partes.
Neste ponto é que a
misericórdia de Deus se revela magnificamente para nós, porque os irmãos de
José tinham pecado seriamente duas vezes: quando venderam seu irmão como
escravo, o que lhe causou terríveis sofrimentos e humilhações, e quando deram
ao pai a dura, mas falsa notícia de que José tinha sido morto, o que encheu o
coração do pai de uma dor horrível. Porém, Deus não os abandonou à morte pela
fome, antes os livrou e os pôs em segurança. Mais ainda: Deus fez deles,
depois, os patriarcas de Israel.
MOISÉS
Outro personagem do Antigo
Testamento que revela a misericórdia de Deus é Moisés, que viveu muitos anos
depois de José, tendo nascido já no Egito, num período de crise para o povo de
Israel, pois os egípcios lhe impunham dura servidão.
Quando Moisés nasceu, sua
mãe, uma mulher da tribo de Levi, vendo que era formoso, cuidou dele por três
meses, mas não podendo ficar com o filho, pois não podia mais escondê-lo dos
egípcios que procuravam matar os filhos dos hebreus, tomou uma atitude extrema.
Fez uma arca de juncos, betumou-a, pôs o menino nela e a colocou nos juncos à
borda do rio. A filha de Faraó desceu até ali para se banhar e a encontrou.
Tendo-a aberto, viu a criança chorando e teve compaixão dela. A princesa
reconheceu que era filho dos hebreus e mandou chamar uma hebreia para cuidar
dele, a qual foi a própria mãe do menino. Quando já estava grande, sua mãe o
levou para a filha de Faraó, que o adotou como filho, chamando-o de Moisés,
dizendo: “Porque das águas o tenho tirado.” (Ex. 2.10)
Moisés cresceu na corte,
recebeu a melhor educação de todo o mundo, sem sofrer perseguição de espécie
alguma. Ele era príncipe no Egito, mas a identidade israelita estava no seu
coração.
Aos 40 anos, vendo um
descendente de Jacó ser ferido por um egípcio, interveio de maneira tão
veemente e provavelmente brutal que o matou. Depois, enterrou-o na areia. No
dia seguinte, saindo outra vez para encontrar seus irmãos israelitas, viu dois
hebreus disputando sobre algo e arguiu o injusto: “Por que feres a teu
próximo?” (Ex. 2.13) O injusto contestou a autoridade de Moisés sobre eles e
disse: “Pensas matar-me, como mataste o egípcio?” (Ex. 2.14) Então, o príncipe
egípcio teve medo de que Faraó já soubesse do assassinato e fugiu para a terra
de Midiã.
Moisés viveu 40 anos longe
das riquezas da corte, da grande metrópole egípcia, de todas as suas regalias.
Na terra de Midiã, ele precisou aprender a pastorear ovelhas. Lá, casou-se com
Zípora e teve dois filhos. Até que inesperadamente Deus lhe aparece numa sarça
que queimava, mas não se consumia. O Senhor lhe chama para uma obra
extraordinária: ser o libertador do povo de Israel. Moisés teve que se humilhar
nesses longos anos em que passou longe do Egito. Antes ele aprendia com
professores altamente gabaritados, mas agora a realidade lhe ensinava.
Deus chamar Moisés para ser
o libertador de Israel é um fato que nos revela a Sua imensurável misericórdia,
porque o descendente de Levi tinha cometido um pecado grave, que mancha a vida
de uma pessoa. Mas Deus lhe deu uma nova oportunidade, ou, antes, não cancelou
os planos firmados desde antes do seu nascimento. E Moisés foi o maior líder
que o povo de Israel já teve, um homem que viveu experiências extraordinárias
com Deus. Ele viveu mais 40 anos na liderança do povo e faleceu sobre o Monte
Nebo, antes de entrar na terra prometida.
CONCLUSÃO
Essas duas histórias nos
mostram como Deus, desde o Antigo Testamento, é misericordioso e cuida dos seus
filhos, dando-lhes uma nova chance. Isso não significa que a vida será indolor
e que os erros não terão consequências, mas, mesmo tendo cometido falhas, não
devemos desesperar da misericórdia de Deus. Arrepender-se, emendar-se e clamar o
Seu nome é o caminho.