quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O "fim de ciclo" da poesia

O professor Olavo de Carvalho, no livro Aristóteles em Nova Perspectiva, escreve que a Teoria dos Quatro Discursos descreve a evolução histórica da cultura. Cada discurso predomina durante uma época e o que se segue não é um discurso aleatório, mas determinado, segundo o "princípio de sucessão dos discursos". O Poético é sucedido pelo Retórico, que dá lugar ao Dialético, que cede espaço para o Lógico-analítico. Assim, no Ocidente, o discurso poético predominou até o século VII a. C. quando a religião grega perdeu autoridade. O discurso retórico, que veio em seguida, predominou do seculo VI a. C. ao I a. C. quando a oratória deixou de ter sua função social, porque não era mais usada como forma de ação política. Com o advento do Cristianismo, o discurso poético tomou nova força e predominou até o século VI d. C. com o fim da Era Patrística (neste caso, houve uma influência externa, oriental). Em seguida, o discurso dialético dominou até o século XV, tendo seu auge no século XIII, com a escolástica. No século XVI, com o racionalismo clássico de Descartes, Newton, Leibniz, etc., o discurso lógico-analítico deu as cartas.
Quando um discurso se torna predominante, ele não elimina os outros, mas estes assumem um novo papel. Dessa forma, na Grécia antiga, o discurso mitopoético era parte da religião coletiva, tinha autoridade sacerdotal, mágica (acreditava-se que as palavras eram carregadas de potência agente sobre a natureza e o sujeito se confundia com o objeto, isto é, as palavras do sacerdote geravam consequências naturais). Com o fim desse período, a poesia deixa de ser coletiva e passa a ser expressão individual, tecnicamente consciente.
Já no século XX, tendo se tornado maximamente autônoma - inclusive livre de todo o compromisso com o conteúdo - privilegiando a forma (Mallarmé, Joyce), a poesia se assemelha aos oráculos antigos, mas agora sem a função oracular. Ninguém acredita que as palavras de um poeta terão consequências naturais. É, por assim dizer, um oráculo "vazio". Ela encontra, dessa maneira, o seu "fim de ciclo". Mas o que significa isso? Um novo período poético está começando? O ciclo lógico-analítico terminou? Quem sabe?

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