II
IMAGINAÇÃO, REFLEXÃO, MEMÓRIA
Há três princípios notáveis na mente: a imaginação, a reflexão e a
memória.
Chamo imaginação ao dom de conceber as coisas de uma maneira
figurada e de pensar por imagens. Assim, a imaginação sempre está relacionada
aos nossos sentidos: ela é a inventora das artes e o ornamento do espírito.
A reflexão é o poder de se dobrar sobre as ideias, de examiná-las,
modificá-las ou combiná-las de diversas maneiras. Ela é o grande princípio do
raciocínio, do juízo, etc.
A memória conserva o precioso depósito da imaginação e da
reflexão. Seria supérfluo deter-se a pintar sua utilidade incontestável. Na
maior parte dos nossos raciocínios, nós não empregamos senão reminiscências; é
nelas que nós nos baseamos, elas são o fundamento e a matéria de todos os
discursos. A inteligência que a memória deixou de nutrir se apaga nos esforços
laboriosos de suas pesquisas. Há um antigo preconceito acerca das pessoas que
têm uma memória privilegiada: supõe-se que sua inteligência, aberta a toda a
sorte de impressões, está vazia e só se supre tanto de ideias emprestadas
porque tem poucas próprias; mas a experiência contradiz essas conjecturas com
grandes exemplos. Tudo o que se pode concluir com razão é que é necessário ter
a memória na mesma proporção que os outros elementos da inteligência, não
caindo em nenhum destes dois vícios: a carência ou o excesso.
Tradução: Jelcimar Luiz Rouver Júnior
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