1
A obra literária, quando cai na mente, não desperta de imediato idéias
que possam ser afirmadas conceitualmente, como faz um texto científico em que
os conceitos já aparecem prontos. Ela preenche a imaginação possibilitando que
eles surjam depois. Em certos momentos, porém, ela produz insights preciosos no
instante mesmo a leitura, abrindo novos horizontes de consciência e completando
o que faltava para compreender certos conceitos já memorizados.
A
imaginação é a porta de entrada da inteligência humana. Nela se reúnem os dados
da experiência, que se organizam em imagens. Posteriormente essas imagens, se
depuradas, tornam-se conceitos. Somente então é possível discorrer
conceitualmente sobre um tema da obra literária. Esta é um símbolo que abre a
inteligência para a compreensão de novos pedaços da realidade que não faziam
parte desse microcosmo imperfeito.
2
Por isso, no início dos estudos, em que a absorção literária e artística
predomina, o estudante pode ter a impressão de não ter feito muito progresso,
porque não se sente capaz de enunciar conceitos e falar sobre muitas coisas,
salvo relatar o que leu, viu e ouviu. Mas essa impressão de estagnação é falsa,
porque ele está firmando as bases de um edifício intelectual que poderá ser
grande. Ele precisa ter paciência e prosseguir na sua preparação.
3
Uma palavra não apresenta para o ouvinte todo o seu conteúdo de maneira
instantânea, como um quadro que aparece inteiramente perante os olhos do
observador. Para pintar o pensamento ao interlocutor, é necessário discorrer
por cada parte.
4
A poesia se caracteriza por tentar dizer uma imensidão de coisas com o
mínimo de palavras, contando com a habilidade do leitor de descriptografar as
metáforas e versos, enquanto as outras modalidades de discurso procuram
discorrer mais demoradamente sobre cada parte do pensamento. Sonetos e outros
poemas são por natureza condensados de sentidos, mas nada é tão breve e tão
abrangente como as sentenças dos sábios.
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