segunda-feira, 11 de abril de 2016

Notas sobre os efeitos da música na alma

1
A música pode ser usada como um entorpecente, uma bebida alcoólica, uma fuga da autoconsciência ou da dureza da vida. Há pessoas que vivem na enganação e nas trapaças e por isso precisam ficar na agitação das festas e baladas; elas não podem se defrontar com o silêncio, que faria emergir à consciência sua miséria e seus erros não confessados. Como todo entorpecente, usar a música assim é uma ilusão, porque alivia enquanto dura o efeito, mas o mal, que seria curado mediante a confissão sincera e a reciclagem da própria vida, permanece. 
Falo apenas de um uso indevido da música.


2
A intensidade da ação da música sobre uma pessoa depende do tipo de música, da estrutura do ouvinte e dos outros elementos que formaram sua vida interior, como a cultura em torno. Pessoas que ouvem Heavy Metal, por exemplo, podem se tornar agressivas ou depressivas, extrovertidas ou introvertidas; a reação não é, pois, idêntica em todos, mas há um certo campo de reações possíveis perante esta ou aquela música. Pegue um grupo de cem metaleiros e um grupo de cem pessoas que só escutam músicas tradicionais folclóricas e você verá que entre os primeiros há diferenças internas, mas elas são menores se compararmos os primeiros com os folcloristas. A música dá a forma dos pensamentos e dos sentimentos e, portanto, do estilo de falar de cada um. Ela é estruturante.

3
A música é a mais espiritual de todas as artes. A sua estrutura sonora age sobre o nosso espírito e pode trazer serenidade ou confusão mental. Muitos evangélicos não compreendem isso e acreditam que somente a letra importa. Daí surgem, dentro das igrejas, aberrações como funks com letras gospel, que mais atrapalham os fiéis que ajudam. Perante isso, os crentes ficam sem reação, porque, afinal de contas, a letra fala de Deus. 
Os velhos pastores que proibiam a bateria e músicas muito agitadas, embora não soubessem argumentar com os jovens, já pressentiam isto que estou dizendo.


4

Na República de Platão, Sócrates e seu interlocutor chegam à conclusão de que, para a construção de uma nação perfeita, certos tipos de música deveriam ser evitados e outros estimulados. Os que usavam o modo grego mixolídio, por serem lamentosos, inúteis para as mulheres e muito mais para os homens guerreiros, deveriam ser banidos, assim como os que usavam os modos jônio e lídio, pois eram efeminados. Restavam apenas os dórico e frígio, próprios de homens valentes. Eles deveriam ser utilizados na educação do cidadão. 
Sócrates e seu amigo estavam especulando como seria uma sociedade perfeita, para ver se era possível construí-la ou não. Chegam à conclusão de que uma sociedade assim não poderia durar. Apesar disso, a investigação que fizeram nos mostra a importância da música na educação e os seus efeitos sobre a alma.

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