segunda-feira, 25 de abril de 2016

Ensino do Português e Cidadania

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Ensinar Português para que os alunos sejam capazes apenas de ser bons cidadãos me parece um objetivo secundário, menor, se inserido na escala de possibilidades do aprendizado da língua. A linguagem serve para a ampliação e manutenção da consciência. Educar somente para a cidadania é conformar o aluno a uma sociedade determinada, enquanto educar para abri-lo a outras épocas e nações, à grande conversação dos sábios de todos os tempos e à realidade mesma, é fazê-lo superar a própria situação social imediata e abrir-se para o transcendente.

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Cada estudante precisa se tornar capaz de transmitir e comunicar os seus pensamentos a outros membros da sociedade e ser hábil para ler e compreender os textos que circulam num país, mas isso não deve ser a aspiração máxima do ensino da língua, senão uma consequência inevitável da busca da consciência através da linguagem.

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Um cidadão pode repetir lugares-comuns e clichês sem nenhuma correspondência com o real, mas úteis para a manutenção da sociedade em que vive, enquanto um homem que busca o mundo espiritual através da linguagem se libertará desses esquemas falseantes e aprenderá a dizer, na medida do possível, a realidade que vê com os próprios olhos.

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O ser humano não conversa apenas com os outros seres humanos, seus concidadãos, mas consigo mesmo e com Deus, de modo que a linguagem serve para que ele se conheça a si mesmo e para a oração, uma vez que ela pode esclarecer a sua visão de si.

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Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, competência linguística é a capacidade de utilizar a "língua" de determinada comunidade, sem necessariamente ser a norma culta, ou seja, a variante linguística da comunidade pode conter erros gramaticais que o falante ainda é considerado linguisticamente competente.

O termo "comunidade" é significativo, porque não se trata de uma nação, mas de um grupo social determinado, seja classe, clube, bairro, etc. Um cidadão linguisticamente competente não é mais aquele que domina a língua nacional, mas que sabe utilizar as formas linguísticas de um grupo.

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Se cada classe social tem a sua variedade linguística e não podemos ensinar uma só Gramática para todas, fica mais fortemente estabelecida a divisão. Em vez de eliminar as classes, esse modo de pensar as estabelece, em vez de desfazer as diferenças linguísticas, as enfatiza.

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As regras gramaticais não são arbitrárias como muitos possam pensar, mas têm sua razão de ser na correta expressão do pensamento. Erros gramaticais são obstáculos à comunicação.

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