1
Na Antiguidade, a música era uma criação dos deuses e tinha o poder de
trazer equilíbrio e harmonia à pessoa, sintonizando-a com a ordem cósmica. Os
antigos olhavam a música com uma forte ênfase moral e educacional, porque
sabiam que ela agia de maneira marcante sobre esses aspectos do homem. Hoje,
porém, as pessoas não têm o mesmo cuidado e se expõem a barulhos que certamente
escandalizariam
gregos e
romanos.
2
A audição é um ato físico operado pelo ouvido, mas submisso ao cérebro,
de modo que se ouve os sons apresentados segundo a estrutura cerebral, ou seja,
segundo à educação sonora recebida. A audição de uma pessoa se adapta à sua língua
materna, conformando seu cérebro à arquitetura do idioma. Para certos fonemas
de línguas desconhecidas, o ouvinte pode ser "surdo". Daí ser
muitíssimo importante tomar cuidado com as músicas que as crianças escutam, uma
vez que elas estruturam sua mente.
3
As músicas e os diversos sons que uma pessoa escuta influem sobre o seu
comportamento motor. As crianças ouvem música e se movimentam conforme o ritmo.
Os adultos também, mas às vezes podam a espontaneidade por motivos sociais.
4
Já de madrugada, lendo Mário Ferreira dos Santos, paro para prestar
atenção no que se passa numa festa próxima da minha casa e percebo que o que
ouço não é sequer música, mas uma sequência infernal e alucinante de barulhos
horríveis, e isso não é uma figura de linguagem. Funk é o que existia tempos atrás.
Hoje as pessoas se reúnem para se endoidecerem com ruídos incompreensíveis.
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