quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Linguagem Literária, Bíblia e Doutrina

Sem absorver a linguagem literária, as palavras da Bíblia e da doutrina, católica ou protestante, não podem ser devidamente compreendidas. Isso acontece por um fator muito simples: o acesso que temos a elas se dá através da linguagem humana, que a Literatura procura desenvolver maximamente. Uma pessoa sem nenhum treinamento literário deixará muita coisa passar despercebida e mal compreendida na leitura, de modo que não entenderá fina e justamente o que está dito.
A Literatura é onde se treina a percepção das nuances de significado, das intenções do autor, do simbolismo das expressões e acontecimentos e da referência do texto à realidade. Quem nunca se dedicou a absorver esses aspectos da linguagem humana não conseguirá compreender as palavras sagradas e fará associações indevidas, deixando escapar o fundo simbólico por trás da literalidade e não saberá aplicar com precisão as Escrituras e doutrina à sua realidade atual. A pessoa sem treino poderá até compreender seus significados imediatos, de maneira rudimentar e conceitual, e ficar raciocinando por estereótipos e esquemas verbais, frases feitas, sem nunca atinar com a realidade. Apenas para citar um exemplo, o sujeito lê a passagem em que Cristo diz que quem lançar mão da espada à espada morrerá e toma isso como um imperativo para todas as situações da vida, de modo que quem pegar uma arma para se defender sempre estará cometendo uma desobediência a Deus. Ele não pensa nos soldados e policiais, não pensa na autodefesa, não pensa que Cristo poderia estar falando diretamente para os discípulos que estavam com ele, aplicando a palavra para aquele exato momento, de modo que quem lançasse mão da espada, naquele instante, cercados de guardas e em que Cristo deveria se entregar, iria morrer à espada. Daí que o sujeito se torna desarmamentista hoje no Brasil, consentindo com a agenda esquerdista e defendendo, quer ligue os pontos e conclua, quer não, que toda a população fique indefesa perante criminosos cruéis, por causa de uma incompreensão das Escrituras. Ele sequer considera que Jesus, em outro momento, disse para os discípulos carregarem uma espada.
Um leigo, que não tem esse treinamento, terá uma inteligência rudimentar dos textos sagrados e da doutrina, ficando dependente de alguém mais instruído, como, na verdade, parece ser a coisa mais comum, mais natural. O que o leigo não pode fazer é querer desbancar pessoas que tenham melhor compreensão mediante o expediente de afirmar a sua interpretação tosca como melhor do que a delas.
É claro que um indivíduo pode receber a sabedoria infusa, mas isso é iniciativa somente de Deus e não incumbência do homem. Pode também ter convivido com o próprio Verbo Divino, como os discípulos, de modo a aprenderem em três anos o que nenhum escriba ou filósofo jamais aprendeu em toda a vida. Por fim, pode absorver lenta e indiretamente a linguagem literária através de outros livros que, não sendo propriamente literários, foram muito bem escritos, por autores que conheciam a Literatura. Além disso, há também a possibilidade de uma melhora na compreensão bíblica e doutrinal mediante a oralidade de uma língua altamente desenvolvida, falada com toda a desenvoltura pelos habitantes de uma nação, mas, dado o desastre do nosso idioma atualmente falado no dia a dia, esse não é o caso do Brasil hoje.
Muito mais simples é dedicar-se à absorção da Literatura, que nos fornecerá a linguagem e os símbolos que enriquecerão o nosso imaginário, de modo a nos auxiliar na compreensão das Escrituras, que são tão profundas, vastas, abrangentes e preciosas, que servirão pelos séculos dos séculos até o fim dos tempos, e da doutrina, que é um discurso racional, que precisa ser atualizado imaginativamente por cada leitor.

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