Na
vida de Jesus há dois acontecimentos análogos interessantíssimos: o primeiro
milagre, em Caná da Galiléia, em que Cristo transformou água em vinho, e a Sua
transfiguração no Monte Tabor. Em ambos, o Senhor transforma os elementos de
maneira miraculosa. A maneira utilizada é, porém, distinta.
No
primeiro caso, a festa de casamento, que nos tempos bíblicos durava uma semana,
estava correndo alegremente, todos se encontravam felizes com aquele momento
tão especial para os noivos. As músicas se sucediam em tom festivo, talvez
fossem canções ao estilo do klezmer de Giora Feidman. Todos conversavam em alta
voz, sorriam, olhando-se nos olhos, apertando-se as mãos, abraçando-se.
Entretanto, por um descuido dos noivos, o vinho, que alegrava os corações, acaba.
Eles se entreolham, sentem profundamente o momento. A noiva resolve prosseguir
suas conversas, deixando a responsabilidade da resolução do problema para o
noivo, que, perante a situação, talvez diante da falta de recursos para comprar
vinho naquele momento, não sabe o que fazer. Uma tristeza invade seu coração,
uma frustração enche seus pensamentos, seu rosto se turba, seu pescoço se
inclina, seus olhos se fixam no nada.
A
Santíssima Virgem, com sensibilidade e olhar atento, percebe de imediato o que
acontecera e entende que só um milagre resolveria o problema, e ninguém melhor
do que Seu Filho para realizá-lo.
-
Meu Filho, eles não têm mais vinho. – intercedeu a Mãe do Senhor.
Jesus
Cristo, que não tinha ido com o intuito de operar um milagre, diz:
-
Não é chegada a minha hora.
Mas
Maria, em vez de desanimar e desistir, dirige-se aos empregados e diz:
-
Façam tudo o que ele disser a vocês.
Jesus
então decide atender ao pedido de Nossa Senhora e trazer a alegria novamente
àquela festa de casamento, que tinha começado tão bem, mas que parecia terminar
inevitavelmente mal. Que marca não seria na vida daquele casal uma vergonha tão
grande!
Jesus
manda encher seis talhas com água até a boca e ordena que as levem ao
mestre-sala. Reparem a sutileza: o Senhor não fez nenhum gesto extravagante, não
disse nenhuma palavra chamativa, não realizou nenhum sinal. O milagre foi
sutil, porque, enquanto os empregados levavam a água para o mestre da festa,
ela se transformou em vinho e a tristeza se dissipou, o sorriso voltou,
voltaram a música, as conversas, os abraços, mas agora em grau muito maior.
Na
transfiguração, Cristo chama os seus três discípulos mais próximos para
acompanhá-lo ao Monte Tabor a fim de orar. Pedro, Tiago e João seguem-no,
subindo, talvez, no escuro da noite, caminhos difíceis. Já chegados ao lugar,
orando, os discípulos adormecem e só acordam quando Cristo se transfigura
perante eles, tendo agora o Seu rosto “como o sol” e as suas roupas “brancas
como a luz”. Aparecem junto ao Mestre o grandíssimo profeta Moisés e Elias,
aquele que subiu aos céus numa carruagem de fogo. Pedro, sem saber o que estava
dizendo, fala ao Senhor que era bom estarem naquele lugar. Ele diz ainda que,
para permanecerem ali mais confortavelmente, os apóstolos construiriam uma
tenda para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias. O Mestre então foi
envolto numa nuvem luminosa e Deus Pai declarou naquele momento: “Este é o meu
amado Filho, a ele ouvi.” Quando a nuvem se desfez, só estava ali Jesus, sem os
profetas. Desceram então do monte para junto dos outros discípulos.
Nos
dois acontecimentos, há uma mudança súbita da natureza: água feita vinho,
aparência meramente humana de Jesus transfigurada em forma gloriosa, luminosa e
poderosa. No segundo caso, Jesus opera um grande sinal perante os olhos dos
discípulos, sem sutileza, mas explicitamente, embora depois tenha lhes ordenado
que não contassem aquela experiência para ninguém até que ele ressuscitasse. A
Transfiguração serviu para fortalecer a fé dos apóstolos, fazendo-os lembrar,
em momentos muito dolorosos depois da morte de Jesus, que Cristo tem poder para
ressuscitar dos mortos, mudando as situações miraculosamente.
Da
mesma forma, quem está passando por situações complicadas, nas quais parece que
os fundamentos da vida e da fé foram abalados, os rumos modificados, a
incerteza presente, deve sempre lembrar que Jesus Cristo é poderoso para, sutil
ou explicitamente, transformar as circunstâncias mais difíceis em momentos de
intensa e desconhecida alegria.
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