quinta-feira, 12 de março de 2015

8 de Março

As televisões do Brasil estavam ligadas. Era comemoração do dia internacional das mulheres e uma mulher iria falar em cadeia nacional. A presidente havia gravado, horas mais cedo, o pronunciamento a ser transmitido às 20h40m. Era domingo, alguns chegavam da missa, outros estavam em seus carros, pelas ruas do país. Os prédios, acordados, esperavam o momento. Os olhos das donas de casa, das universitárias, das doutoras, das crianças, e dos trabalhadores, professores, dos aposentados, da oposição, da situação, dos militantes estavam aguardando.
A presidente aparece, mais magra e mais branca. Capricha na dicção, se esforça para apresentar um rosto alegre, simpático. Promete fornecer à população explicações sensatas para as medidas impopulares que tomou e que havia dito em campanha não tomaria. Começa então um corolário de mentiras e falsificações, de negações descaradas das realidades mais óbvias que todo mundo vê com os olhos da cara. Uma “crise internacional” é sacada como recurso para tentar justificar aumentos de gasolina, energia e água. A meteorologia desfavorável também é invocada, as críticas ao governo são reprovadas como injustas e, falando de fé e esperança, e de que os problemas nacionais são também espirituais, a presidente pede paciência e consideração. No fim, ela diz que vai aprovar no dia seguinte a lei que torna o assassinato de mulheres um crime hediondo.
Acaba o pronunciamento; porém, antes mesmo, estouravam pelo país protestos espontâneos de indignação, de fadiga limítrofe, de cansaço que já não se pode suportar, os quais protestos – buzinaços e panelaços – petistas dizem agora ter sido armação golpista da oposição.
A situação nacional ficou para lá de insuportável e a presidente não se cansa de mentir, de falsificar a realidade, como se o brasileiro fosse um retardado mental incapaz de ver com os próprios olhos e perceber a mentira.

A noite foi arrepiante. Os vídeos que espocaram na internet mostravam prédios piscando na escuridão brasileira, gritos de “fora, Dilma!” que vazavam o silêncio, saindo de um prédio e percorrendo o caminho até os outros, nas asas do descontentamento e da exasperação. Foi uma noite especial, histórica, que deverá ser lembrada nos livros do futuro, como a noite em que a provavelmente mais impopular de todos os presidentes que esse país já teve foi vaiada mais uma vez. Dilma Rousseff definitivamente entrou para a história deste país.

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