Expor cada pensamento num texto organizado é ir caminhando pelos
recantos obscuros da alma e lançando luz neles, de modo a poder enxergar-se
melhor, ampliando a autoconsciência. Quando não dizemos para nós mesmos o que
vimos, os pensamentos e imagens que passaram pela nossa mente ficam depositados
em cantos sombrios, podendo ser às vezes despertados de modo acidental, segundo
às circunstâncias, mostrando-se não raro com a sua face deformada, como bêbados
que se levantam de um sono para dormir novamente. Entretanto, quando usamos as
palavras para dizer e investigar o nosso próprio mundo interior, este vai se
tornando mais luminoso, organizado e conhecido, proporcionando que utilizemos
cada idéia clara quando dela tivermos precisão e que vejamos a nós mesmos em plena
luz do dia. A palavra é, pois, um instrumento de autoconhecimento e
autoinvestigação, um guia para percorrermos as sendas escuras da alma, um fio
condutor para atravessarmos a floresta penumbrosa. Por isso, é muitíssimo
importante desenvolver a linguagem pessoal, aprendendo a se expressar com os
clássicos da Literatura, uma vez que quem dispõe apenas da linguagem do meio
imediato e da mídia só poderá percorrer os mesmos circuitos e estará preso às
mesmas estradas já conhecidas, que, por não mostrarem a floresta como é, iludem
o viajante sobre si mesmo.
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