Dizzy Gillespie pintado por Leonid Afremov
O poeta lida com a
palavra, ela é o seu instrumento de trabalho, mas a poesia não é apenas uma
combinação de vocábulos, de frases, de estrofes, de sons de um modo geral; ela
é a manifestação do mundo, da realidade, da estância espiritual na arte. O poeta,
como o pintor, tenta verter a vida real para a obra de arte, congelando as
imagens, as impressões, para torná-las o mais duradouras possível, como um
escultor, que talha na pedra a beleza de uma jovem, no intuito de eternizá-la o
quanto possível. O original envelhece, perde as formas, mas a estátua fica.
Entretanto, o poeta não é um criador de ídolos, feitos para serem adorados
enquanto objetos sem vida. O poeta tenta criar janelas permanentes, por onde as
inteligências acessem o mundo espiritual ou, dito de modo mais direto, ele
tenta criar símbolos para enriquecerem nossa imaginação e alimentarem nossa
inteligência. Para tanto, ele precisa estudar e ter contato com coisas que não
são poesia, nem são palavra, como pinturas, músicas e, evidentemente, a realidade.
Para fazer uma
comparação, um músico (digamos um Dizzy Gillespie, um Victor Wooten, um B. B.
King) se tornou grande porque treinou muito, estudou muito o seu instrumento,
procurando descobrir novas maneiras de executá-lo e tirar dele os sons
possíveis, e novas combinações. Ele teve que estudar, e as informações, os
conhecimentos, não são materiais, não são sons, eles são espirituais.
Analogicamente, o poeta precisa estudar muito, buscando novas formas de dizer,
novas combinações de palavras, porém não pelas combinações em si, mas pelos
efeitos espirituais que a sua poesia poderá causar.
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