sexta-feira, 3 de junho de 2016

A palavra, instrumento de trabalho do poeta

Dizzy Gillespie pintado por Leonid Afremov

O poeta lida com a palavra, ela é o seu instrumento de trabalho, mas a poesia não é apenas uma combinação de vocábulos, de frases, de estrofes, de sons de um modo geral; ela é a manifestação do mundo, da realidade, da estância espiritual na arte. O poeta, como o pintor, tenta verter a vida real para a obra de arte, congelando as imagens, as impressões, para torná-las o mais duradouras possível, como um escultor, que talha na pedra a beleza de uma jovem, no intuito de eternizá-la o quanto possível. O original envelhece, perde as formas, mas a estátua fica. Entretanto, o poeta não é um criador de ídolos, feitos para serem adorados enquanto objetos sem vida. O poeta tenta criar janelas permanentes, por onde as inteligências acessem o mundo espiritual ou, dito de modo mais direto, ele tenta criar símbolos para enriquecerem nossa imaginação e alimentarem nossa inteligência. Para tanto, ele precisa estudar e ter contato com coisas que não são poesia, nem são palavra, como pinturas, músicas e, evidentemente, a realidade.

Para fazer uma comparação, um músico (digamos um Dizzy Gillespie, um Victor Wooten, um B. B. King) se tornou grande porque treinou muito, estudou muito o seu instrumento, procurando descobrir novas maneiras de executá-lo e tirar dele os sons possíveis, e novas combinações. Ele teve que estudar, e as informações, os conhecimentos, não são materiais, não são sons, eles são espirituais. Analogicamente, o poeta precisa estudar muito, buscando novas formas de dizer, novas combinações de palavras, porém não pelas combinações em si, mas pelos efeitos espirituais que a sua poesia poderá causar.

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