quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

As imagens na Bíblia


Em Êxodo 20: 3-5 e Levítico 26: 1 Deus proíbe ao povo judeu fazer imagens de escultura para adorá-las, como faziam os povos pagãos em redor. Mas em Números 21: 8 o próprio Deus manda Moisés fazer uma serpente de bronze para o povo olhar para ela e ficar curado. Disso se depreende que o "não fará para ti imagens de escultura" se refere a imagens de adoração (deuses) e não a toda e qualquer imagem. Além disso, o tabernáculo ordenado a Moisés tinha dois querubins de ouro e o templo construído por Salomão era repleto de imagens. Deus se agradou de tudo, descendo a sua glória numa nuvem no templo (Reis 8: 10, 11). 
Sobre as imagens no tabernáculo e no templo ler: Ex 25:18; Reis 6: 29, 32, 35; 7: 25, 29, 36; II Crônicas 4: 2-4.

Bíblia Sagrada: edição comemorativa do aniversário do Papa Bento XVI

Bíblia Sagrada, edição comemorativa do aniversário do Papa Bento XVI, 2007, tradução do padre Antônio Pereira de Figueiredo, a mais harmoniosa que já li. Ela tem várias imagens no interior e vem com um livreto sobre o Mosteiro de São Bento e com um CD de canto gregoriano. 

Imagens visuais: matéria e espírito

A simples presença de uma imagem visual já traz uma carga espiritual, porque ela desperta pensamentos, sentimentos e vontades. Uma imagem de mulher nua, por exemplo, desperta vários pensamentos - às vezes pecaminosos - nos homens. Do mesmo modo, mas inversamente, as imagens numa igreja ou num quarto ajudam a criar um bom ambiente espiritual. São o mundo material e o espiritual unidos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A ÚLTIMA CANTIGA DE CECÍLIA MEIRELES


Num dia que não se adivinha,
meus olhos assim estarão:
e há de dizer-se: "Era a expressão
que ela ultimamente tinha."

Sem que se mova a minha mão
nem se incline a minha cabeça
nem a minha boca estremeça
- toda serei recordação.

Meus pensamentos sem tristeza
de novo se debruçarão
entre o acabado coração
e o horizonte da língua presa.

Tu, que foste a minha paixão,
virás a mim, pelo meu gosto,
e de muito além do meu rosto
meus olhos te percorrerão.

Nem por distante ou distraído
escaparás à invocação
que, de amor e de mansidão,
te eleva o meu sonho perdido.

Mas não verás tua existência
nesse mundo sem sol nem chão,
por onde se derramarão
os mares da minha incoerência.

Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quanto eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito "Não".

E ondas seguidas de saudade,
sempre na tua direção,
caminharão, caminharão,
sem nenhuma finalidade.

Cecília Meireles (7 de Novembro de 1901, Tijuca, Rio de Janeiro - 9 de Novembro de 1964, Rio de Janeiro).

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Dostoievski e a superação

Dostoievski foi condenado à morte por participar de atividades revolucionárias na Rússia. Na hora da execução, sua condenação foi comutada em anos de trabalhos forçados na fria Sibéria. Ele era epilético, o que significa que poderia sofrer ataques a qualquer momento em meio à dureza do lugar em que estava. Podemos supor que remédios necessários também lhe faltavam. Era uma situação difícil, mas dessa experiência ele tirou material humano para ser provavelmente o maior romancista de todos os tempos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Dois exemplos da misericórdia de Deus

A Bíblia está repleta da misericórdia de Deus. Não apenas o Novo Testamento a revela, mas o Antigo também, porque Deus é misericordioso desde a eternidade. Evidentemente, Jesus Cristo, o Filho de Deus, é a revelação plena dessa misericórdia, mas já podemos vê-la prenunciada na vida de dois gigantes da fé: José do Egito e Moisés.

JOSÉ

José, filho de Jacó, era o mais novo de seus irmãos e desde sempre foi tratado com muita predileção pelo pai, que lhe deu, certa vez, uma túnica colorida que nenhum deles tinha jamais recebido. Uma túnica colorida era sinal de honra, em contraposição às túnicas de uma cor só, cinzentas, marrons, escuras ou claras, que eram apenas comuns. Além disso, José recebia sonhos de Deus. Ele os contava a seus irmãos, mas eles não podiam crer, pois os sonhos sempre mostravam José numa posição de destaque sobre os outros filhos de Jacó. José foi chamado pejorativamente de “sonhador”, até que seus irmãos não suportaram mais e quiseram matá-lo. Mas Rubens, o mais velho, dissuadiu-os de fazerem isso. Eles, então, lançaram-no numa cova, molharam sua túnica no sangue de um cabrito e a levaram a Jacó, dando-lhe a falsa notícia de que um urso havia devorado seu filho.

Depois que José fora lançado na cova, seus irmãos se assentaram junto dela para comerem. Aconteceu então que uma caravana de ismaelitas vinha passando nas proximidades e Judá convenceu os irmãos a venderem-no como escravo. O jovem rapaz foi conduzido ao Egito, provavelmente puxado por uma corda, recebendo socos e chutes, ofensas e humilhações, tendo que caminhar uma longa distância.

Quando chegou àquela terra estranha, foi vendido para Potifar, eunuco de Faraó e capitão da guarda. Mas José foi sempre fiel a Deus, nunca consentindo com o pecado. O Senhor o honrou grandemente. O rapaz lançado numa cova tornou-se o responsável por toda a casa do capitão, tendo poder sobre tudo, menos sobre a sua mulher, que, pondo os olhos em José, desejou-o e tentou seduzi-lo. Ele, contudo, resistiu. A mulher, vendo isso, acusou-o de ter tentado forçá-la a ter relações sexuais com ele. José foi enviado para o cárcere, onde interpretou dois sonhos, o do copeiro e o do padeiro. O primeiro seria restituído à sua posição diante de Faraó em três dias e o segundo seria morto em igual quantidade de tempo. E assim sucedeu. O copeiro voltou a estar na presença de Faraó e o padeiro foi enforcado. Ao copeiro, José pediu que se lembrasse dele quando estivesse novamente com o rei, mas ele não o atendeu. Somente depois de dois anos, quando Faraó teve um sonho à beira do rio e chamou seus adivinhadores e todos os sábios do Egito para lhe darem a interpretação, o que não puderam fazer, foi que o copeiro se lembrou de um jovem que tinha interpretado seu sonho e o do padeiro na prisão, tendo tudo acontecido como ele falou. Faraó então manda chamá-lo. 

Tiraram José dessa segunda cova, ele barbeou-se, trocou de roupa e apresentou-se a Faraó, que lhe contou todo o sonho, que falava de sete vacas gordas e sete vacas magras, sete espigas cheias e sete espigas secas. José interpretou o sonho, dizendo que as sete vacas gordas, assim como as sete espigas cheias, significavam sete anos de fartura sobre a terra do Egito e as sete vacas magras e as sete espigas secas, sete anos de fome. José deu ainda conselhos a Faraó, que humilde e sabiamente os seguiu, constituindo o jovem vendido como escravo como governador do Egito, a maior autoridade do reino abaixo do rei.

Os egípcios puderam assim se prevenir dos dias difíceis que viriam, Dessa forma, Deus abençoou o Egito pelas mãos de José. Mas não somente. A família do rapaz foi poupada da fome e livre da morte que veio sobre a terra em que viviam, pois também sobre ela veio uma grande escassez. Jacó e seus filhos foram morar no Egito, longe das dificuldades que assolavam as outras partes.

Neste ponto é que a misericórdia de Deus se revela magnificamente para nós, porque os irmãos de José tinham pecado seriamente duas vezes: quando venderam seu irmão como escravo, o que lhe causou terríveis sofrimentos e humilhações, e quando deram ao pai a dura, mas falsa notícia de que José tinha sido morto, o que encheu o coração do pai de uma dor horrível. Porém, Deus não os abandonou à morte pela fome, antes os livrou e os pôs em segurança. Mais ainda: Deus fez deles, depois, os patriarcas de Israel.

MOISÉS

Outro personagem do Antigo Testamento que revela a misericórdia de Deus é Moisés, que viveu muitos anos depois de José, tendo nascido já no Egito, num período de crise para o povo de Israel, pois os egípcios lhe impunham dura servidão.

Quando Moisés nasceu, sua mãe, uma mulher da tribo de Levi, vendo que era formoso, cuidou dele por três meses, mas não podendo ficar com o filho, pois não podia mais escondê-lo dos egípcios que procuravam matar os filhos dos hebreus, tomou uma atitude extrema. Fez uma arca de juncos, betumou-a, pôs o menino nela e a colocou nos juncos à borda do rio. A filha de Faraó desceu até ali para se banhar e a encontrou. Tendo-a aberto, viu a criança chorando e teve compaixão dela. A princesa reconheceu que era filho dos hebreus e mandou chamar uma hebreia para cuidar dele, a qual foi a própria mãe do menino. Quando já estava grande, sua mãe o levou para a filha de Faraó, que o adotou como filho, chamando-o de Moisés, dizendo: “Porque das águas o tenho tirado.” (Ex. 2.10)

Moisés cresceu na corte, recebeu a melhor educação de todo o mundo, sem sofrer perseguição de espécie alguma. Ele era príncipe no Egito, mas a identidade israelita estava no seu coração.

Aos 40 anos, vendo um descendente de Jacó ser ferido por um egípcio, interveio de maneira tão veemente e provavelmente brutal que o matou. Depois, enterrou-o na areia. No dia seguinte, saindo outra vez para encontrar seus irmãos israelitas, viu dois hebreus disputando sobre algo e arguiu o injusto: “Por que feres a teu próximo?” (Ex. 2.13) O injusto contestou a autoridade de Moisés sobre eles e disse: “Pensas matar-me, como mataste o egípcio?” (Ex. 2.14) Então, o príncipe egípcio teve medo de que Faraó já soubesse do assassinato e fugiu para a terra de Midiã.

Moisés viveu 40 anos longe das riquezas da corte, da grande metrópole egípcia, de todas as suas regalias. Na terra de Midiã, ele precisou aprender a pastorear ovelhas. Lá, casou-se com Zípora e teve dois filhos. Até que inesperadamente Deus lhe aparece numa sarça que queimava, mas não se consumia. O Senhor lhe chama para uma obra extraordinária: ser o libertador do povo de Israel. Moisés teve que se humilhar nesses longos anos em que passou longe do Egito. Antes ele aprendia com professores altamente gabaritados, mas agora a realidade lhe ensinava.

Deus chamar Moisés para ser o libertador de Israel é um fato que nos revela a Sua imensurável misericórdia, porque o descendente de Levi tinha cometido um pecado grave, que mancha a vida de uma pessoa. Mas Deus lhe deu uma nova oportunidade, ou, antes, não cancelou os planos firmados desde antes do seu nascimento. E Moisés foi o maior líder que o povo de Israel já teve, um homem que viveu experiências extraordinárias com Deus. Ele viveu mais 40 anos na liderança do povo e faleceu sobre o Monte Nebo, antes de entrar na terra prometida.

CONCLUSÃO

Essas duas histórias nos mostram como Deus, desde o Antigo Testamento, é misericordioso e cuida dos seus filhos, dando-lhes uma nova chance. Isso não significa que a vida será indolor e que os erros não terão consequências, mas, mesmo tendo cometido falhas, não devemos desesperar da misericórdia de Deus. Arrepender-se, emendar-se e clamar o Seu nome é o caminho.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Jesus transformando situações: um comentário sobre as Bodas de Caná e a Transfiguração de Nosso Senhor

Na vida de Jesus há dois acontecimentos análogos interessantíssimos: o primeiro milagre, em Caná da Galiléia, em que Cristo transformou água em vinho, e a Sua transfiguração no Monte Tabor. Em ambos, o Senhor transforma os elementos de maneira miraculosa. A maneira utilizada é, porém, distinta.
No primeiro caso, a festa de casamento, que nos tempos bíblicos durava uma semana, estava correndo alegremente, todos se encontravam felizes com aquele momento tão especial para os noivos. As músicas se sucediam em tom festivo, talvez fossem canções ao estilo do klezmer de Giora Feidman. Todos conversavam em alta voz, sorriam, olhando-se nos olhos, apertando-se as mãos, abraçando-se. Entretanto, por um descuido dos noivos, o vinho, que alegrava os corações, acaba. Eles se entreolham, sentem profundamente o momento. A noiva resolve prosseguir suas conversas, deixando a responsabilidade da resolução do problema para o noivo, que, perante a situação, talvez diante da falta de recursos para comprar vinho naquele momento, não sabe o que fazer. Uma tristeza invade seu coração, uma frustração enche seus pensamentos, seu rosto se turba, seu pescoço se inclina, seus olhos se fixam no nada.
A Santíssima Virgem, com sensibilidade e olhar atento, percebe de imediato o que acontecera e entende que só um milagre resolveria o problema, e ninguém melhor do que Seu Filho para realizá-lo.
- Meu Filho, eles não têm mais vinho. – intercedeu a Mãe do Senhor.
Jesus Cristo, que não tinha ido com o intuito de operar um milagre, diz:
- Não é chegada a minha hora.
Mas Maria, em vez de desanimar e desistir, dirige-se aos empregados e diz:
- Façam tudo o que ele disser a vocês.
Jesus então decide atender ao pedido de Nossa Senhora e trazer a alegria novamente àquela festa de casamento, que tinha começado tão bem, mas que parecia terminar inevitavelmente mal. Que marca não seria na vida daquele casal uma vergonha tão grande! 
Jesus manda encher seis talhas com água até a boca e ordena que as levem ao mestre-sala. Reparem a sutileza: o Senhor não fez nenhum gesto extravagante, não disse nenhuma palavra chamativa, não realizou nenhum sinal. O milagre foi sutil, porque, enquanto os empregados levavam a água para o mestre da festa, ela se transformou em vinho e a tristeza se dissipou, o sorriso voltou, voltaram a música, as conversas, os abraços, mas agora em grau muito maior.

Na transfiguração, Cristo chama os seus três discípulos mais próximos para acompanhá-lo ao Monte Tabor a fim de orar. Pedro, Tiago e João seguem-no, subindo, talvez, no escuro da noite, caminhos difíceis. Já chegados ao lugar, orando, os discípulos adormecem e só acordam quando Cristo se transfigura perante eles, tendo agora o Seu rosto “como o sol” e as suas roupas “brancas como a luz”. Aparecem junto ao Mestre o grandíssimo profeta Moisés e Elias, aquele que subiu aos céus numa carruagem de fogo. Pedro, sem saber o que estava dizendo, fala ao Senhor que era bom estarem naquele lugar. Ele diz ainda que, para permanecerem ali mais confortavelmente, os apóstolos construiriam uma tenda para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias. O Mestre então foi envolto numa nuvem luminosa e Deus Pai declarou naquele momento: “Este é o meu amado Filho, a ele ouvi.” Quando a nuvem se desfez, só estava ali Jesus, sem os profetas. Desceram então do monte para junto dos outros discípulos.
Nos dois acontecimentos, há uma mudança súbita da natureza: água feita vinho, aparência meramente humana de Jesus transfigurada em forma gloriosa, luminosa e poderosa. No segundo caso, Jesus opera um grande sinal perante os olhos dos discípulos, sem sutileza, mas explicitamente, embora depois tenha lhes ordenado que não contassem aquela experiência para ninguém até que ele ressuscitasse. A Transfiguração serviu para fortalecer a fé dos apóstolos, fazendo-os lembrar, em momentos muito dolorosos depois da morte de Jesus, que Cristo tem poder para ressuscitar dos mortos, mudando as situações miraculosamente.

Da mesma forma, quem está passando por situações complicadas, nas quais parece que os fundamentos da vida e da fé foram abalados, os rumos modificados, a incerteza presente, deve sempre lembrar que Jesus Cristo é poderoso para, sutil ou explicitamente, transformar as circunstâncias mais difíceis em momentos de intensa e desconhecida alegria.